quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Pérolas do Anticeltismo

Já descrevi nesse blog como é que os anglo-saxões (Ingleses, americanos) começaram uma campanha publicitária anti-céltica, neo-neoclássica lá pelos anos 20, logo depois da independência da Irlanda .

Agora, como o assunto está muito em voga e inclusive, o fato de que os ditos nacionalistas saxões pilharam o imaginário celta durante 50, 60 anos sem darem o devido crédito enquanto faziam a apologia daqueles que eram os verdadeiros piratas nas crônicas históricas ( porque, sinto muito, mas os vikings, saxões e o restante dos escandinavos eram piratas em todos os sentidos possíveis da palavra e fizeram misérias por toda a Europa Setentrional antes de ficarem "educadinhos") vou colar aqui algumas pérolas dos ardorosos detratores das "coisas célticas", começando por Tolkien que foi citado em um contexto meio duvidoso como dizendo que :


Irônico que essa crítica de Tolkien dirigida aos mitos celtas era , justamente, feita pela geração de críticos anteriores a ele em relação a uma das suas obras favoritas: o exaltado e idolatrado Beowulf ( que pode ter sido copiado de contos de fadas celtas cooptados pelo poeta anglo-saxão para enaltecer o sentimento patriótico da nação "inglesa"



A propósito as mesmas críticas são justamente dirigidas também à história do Kalevala que Tolkien achou por bem recriar dando a ela uma forma de sua própria lavra, pois a história de Kullervo original do Kalevala, inspiração pra Túrin Turambar e para um conto fanfiqueiro do próprio Tolkien publicado em Tolkien studies 07 era uma verdadeira zona:





Engraçado que alguns anos antes ele era bem mais brando:



E aqui vai outro empolgado na "justa fúria" anglo-saxã com o romantismo celta "afeminado" e black-lipped ( será que E.R. Edisson previa o surgimento de Damodar "Bluelips" daquela obra prima que é o filme do AD&D?



E mais irônico ainda fica se colarmos aqui os comentários sobre o viés homoerótico de Worm Ouroboros comentados pela Kristen Brennan.

In a letter to Caroline Everett, Tolkien called E.R. Eddison "the greatest and most convincing writer of 'invented worlds' that I have ever read," though he considered Eddison's nomenclature "slipshod and often inept." Eddison's best-known fantasy is The Worm Ouroboros (1926), which also drew on Homer, Norse mythology and Le Morte D'Arthur. In a sense Eddison paved the way for Tolkien, reaching for the same goal but without Tolkien's ear for language. It would be very easy to read Eddison's book as a gay fantasy: a man named Lessingham falls asleep with his wife, then wakes up without her on the planet Mercury, which is populated mostly with tall, mustached, broad-shouldered men who are into fine silks, courtly manners and wrestling each other with no clothes on. Near the beginning there's a scene one might interpret as a metaphor for forced anal sex: the hero wins a wrestling match by "thrusting his fingers up Goldry's nose in his cruel anger, scratching and clawing at the delicate inner parts of the nostrils in such wise that Goldry was fain to draw back his head."



Tem outra citação do livro da Marjorie Burns que eu adoro: uma onde ela diz que os americanos e ingleses só aceitavam "céltico" se vier codificado como sendo "arturiano" ( e isso é verdade em relação a muitas das obras literárias que usaram a matéria céltica nos últimos cinquenta ou sessenta anos.



Essa citação dessa biografia de Tolkien deixa claro o quanto o preconceito contra a mitologia celta ainda existe: os comentários sobre a natureza "introspectiva " da mitologia celta em contraste com a "aventura heróica" da nórdica que, supostamente, tem menos laivos de conteúdo moral são uma tremenda generalização, que mostra o grau de infamiliaridade do autor para com o mito celta.




O épico de Cuchulain é , provavelmente, mais cheio de ação heróica, sanguinolenta,moral ambígua do que a maioria dos mitos nórdicos e até mesmo do que diversas sagas. Não tem a menor preocupação com "demandas" ou caça ao tesouro ( realmente recorrente no mito celta mas ausente ali) e, pra piorar, o herói, ainda por cima, está do lado de um rei que é a parte ofensora da história, um autêntico FDP que havia feito horrores na história de Deirdre e Naisis.

Lloyd Alexander imitou o clima "arturiano" no Chronicles of Prydain assim como deu um bom copy and paste ( pelo que sei admitidamente) no Aragorn e no Wart( Arthur) do T.H.White quando foi fazer o seu Taran. Susan Cooper usou mitologia arturiana enquanto Alan Garner, muito embora fazendo uso de coisas galesas e escandinavas, enfiou beeeemmmmmmm subrepticiamente (tipo tapa com luva de pelica pq todo mundo já supunha que o tal rei TINHA que ser o "inglês" (na verdade galês ou escocês)Arthur), o nome de Finn Maccumhail, que é o "Arthur" irlandês, como sendo o verdadeiro rei adormecido sob a Montanha que vai voltar na profetizada batalha do Fim do Mundo ( rei sob a montanha, batalha do fim do mundo? Isso soa familiar...





Tudo na excelente série A Pedra de Brisingamen, a saga de Alderley que Alan Garner continuou com a Lua de Gomrath.

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